Está em curso em Itapira, a partir da Fazenda Talismã, localizada na  região Leste do município, um processo de aproximação entre pesquisadores ligados ao Instituto Chico Mendes (o ICMBio, uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente) e proprietários rurais de Itapira numa tentativa de incluir essas propriedades dentro do programa conhecido como Corredor das Onças. O objetivo é evitar a extinção da onça parda e demais espécies ameaçadas, que ainda sobrevivem em nossa região.

 

Uma equipe comandada pela analista ambiental, Márcia Gonçalves Rodrigues, esteve nas duas últimas semanas visitando a Talismã para a instalação de armadilhas fotográficas utilizadas para comprovar a presença dos felinos. O médico veterinário Pedro Nacib Jorge Neto, proprietário da Talismã, soube da existência do programa no começo do ano, depois de acessar o site a partir de material informativo sobre sua existência.

 

Profissional antenado em assuntos relacionados ao meio ambiente, Jorge Neto já havia encontrado diversos vestígios da presença de grandes felinos rondando sua propriedade e adjacências como, por exemplo, pegadas. Além disso desenvolve um trabalho de ponta no aprimoramento genético de raças de ovinos e cria cães de raça, entre eles o Pastor Maremano Abruzês, originário da Itália e especializado na proteção de rebanhos, cujos exemplares têm a habilidade de impedir a predação no rebanho.

 

Ele ficou particularmente satisfeito com a receptividade que recebeu do pessoal do ICMbio  e está oferecendo toda ajuda possível para que o programa finque raízes em Itapira. “Trata-se de um trabalho fantástico, de reconhecimento internacional e que só tem coisas positivas para agregar ao cotidiano dos produtores rurais da nossa região”, explica.

 

Os primeiros resultados da incursão dos especialistas foram os mais animadores possíveis. Pelo menos um animal de grande porte foi fotografado, motivo mais do que suficiente para que a pesquisadora Márcia Rodrigues, Mestre em Ecologia e Doutora em Política Ambiental, intensifique  os meios necessários para  realizar um trabalho de conscientização no município.

 

Questionada a respeito de qual argumento espera utilizar para garantir o apoio pretendido, ela explicou que a onça é um predador natural de animais, cuja população está saindo do controle em várias regiões do país – em especial na região de Campinas - como é o caso das capivaras e o javaporco (mistura do javali depois de cruzamento feito com porcos domésticos, cuja introdução e consequente procriação tem causado imenso prejuízo às lavouras em vários estados brasileiros). “São animais que se procriam com enorme facilidade, com até três crias por ano. Com a diminuição e a quase extinção das onças, a população desses animais cresce de uma forma descontrolada causando sérios prejuízos para a agricultura. Este por si só é um ótimo argumento para que os produtores rurais passem a enxergar este assunto de uma forma mais racional”, discorreu.

Território

 

A especialista explica que cada onça necessita de um espaço equivalente a 150 quilômetros quadrados como território para sobreviver. A derrubada das matas e o consequente avanço da zona urbana acarreta situações onde esses animais começam a aparecer com mais frequência nas cidades. Foi sua equipe, por exemplo, que em março foi chamada para capturar uma onça parda dentro do Hospital São Francisco, em Mogi Guaçu.

 

Ao ser questionada dos riscos que uma situação igual a esta ocorrida na vizinha cidade pode ocasionar, ela diz que as pessoas, caso se vejam em situação de proximidade com algum felino deste porte, devem procurar manter a calma. “O comportamento padrão das onças é de fugir do ser humano. É um animal tímido por natureza e não existem relatos de ataques a seres humanos no Brasil”, garantiu. Lembrou também que   matar um animal ameaçado de extinção sem motivo aparente é crime inafiançável e punido com prisão.

 

Para superar preconceitos e aplainar o caminho para um nível de conscientização que angarie simpatia para a causa, os pesquisadores  buscam parcerias. Na região, por exemplo, a empresa Renovias tem feito campanha para evitar o atropelamento de animais silvestres, entre os quais, a onça. Em suas recentes visitas à cidade, Márcia manteve contato com a Secretaria de Agricultura , Abastecimento e Meio Ambiente (SAMA). A equipe tem em mente contatar outros grupos organizados, como Sindicato Rural, Condema e proprietários de terra. 

 

O trabalho prevê a captura de onças para que seja feito um trabalho de rastreamento, com a colocação de um de colar que emite sinais via satélite da localização do animal. Márcia conta ainda que o programa Corredor das Onças prevê ações práticas como reflorestamento e recuperação de mananciais, medidas segundo ela de extrema importância para que haja resultados concretos.  “A recuperação da biodiversidade se dará principalmente pela reconexão dos principais fragmentos florestais presentes na região utilizando a onça parda (Puma concolor) como espécie de bandeira e bioindicadora”, afirma trecho extraído do site oficial do programa (www.icmbio.gov.br/corredordasoncas).

 

Junto com a equipe que conversou com a reportagem de A Cidade na sexta-feira, 05, estava o itapirense Renato da Costa Figueiredo, com experiência no manejo do javali e do javaporco. Ele garante que a presença destes animais na zona rural é mais freqüente do que aparenta ser. Trata-se de um voluntário para auxiliar no que é chamado de “ações de controle desta espécie invasora”. Além de Figueiredo, integram a comitiva do ICMBio, Sérgio Ferreira, responsável pela captura e geoprocessamento, e Jorge Salomão Junior, médico veterinário.

 

 

 

Onça fotografada na Fazenda Talismã

 

A equipe do ICMBio, que tem visitado a cidade, comandada pela analista ambiental Márcia  Gonçalves

 

O crescimento indiscriminado da população de Javalis tem sido registrada em toda a região.

Na foto, exemplar também flagrado na Fazenda Talismã.